segunda-feira, 9 de setembro de 2013

A queda do poderoso chefão do Vaticano

A substituição de Tarcisio Bertone, secretário de Estado da Santa Sé, marca o fim de uma era conturbada na Igreja da igreja catolica

Se ainda havia uma sombra do papado anterior, ela foi dissipada no sábado 31, com a substituição do secretário de Estado da Santa Sé, o polêmico cardeal Tarcisio Bertone, 78 anos, pelo arcebispo Pietro Parolin, uma das mais aguardadas reformas desta atual administração, que dará início a uma série de mudanças em outros cargos-chave, previstas para outubro. 

Durante os quase oito anos de pontificado de Joseph Ratzinger, poucas figuras acumularam tanto poder quanto o religioso italiano, que exercia um cargo semelhante ao de primeiro-ministro. Diante de um papa pouco afeito ao jogo político da cidade-estado, Bertone cresceu em importância e, em alguns círculos, chegou a ser visto como mais poderoso até que o sumo pontífice. O salesiano, fluente em italiano, francês, alemão, espanhol e português, deu inúmeras demonstrações públicas de seu poder – em entrevistas, por exemplo, discursava com liberdade típica de quem não presta contas a ninguém. 

Durante as solenidades, comportava-se quase como um vice-papa, extrapolando as suas atribuições como secretário de Estado. Mas foi internamente, longe dos olhos do 1,2 bilhão de fiéis católicos espalhados pelo mundo, que exerceu sua autoridade e influência de forma plena. A partir de documentos vazados no que ficou conhecido como o escândalo VatiLeaks, as histórias das vítimas (leia quadro) do projeto de poder do italiano foram reveladas, trazendo à tona o modus operandi do cardeal, que agia como um verdadeiro imperador.


Foram feitas acusações sobre mim – uma rede de corvos e víboras...”, teria reagido Bertone no domingo 1º, um dia depois de receber a notícia, ao final de uma missa da qual participou na Ilha da Sicília, região sul da Itália.                                                                                          “Mas isso não deve obscurecer o que considero um balanço positivo (dos anos como secretário de Estado).                                                                              O religioso ainda fez um mea-culpa, dizendo que, se pudesse voltar no tempo, teria agido de modo diferente em alguns momentos, e aproveitou para reclamar de quem pensa que o secretário de Estado tem poder para decidir e controlar tudo.                                                                                                                    “Ele realmente não tem”, afirma o padre João Batista Libânio, teólogo jesuíta do Instituto Santo Inácio, em Belo Horizonte.                                                         “No Vaticano, quem tem o poder simbólico nem sempre é quem tem o poder real”, diz. Ou seja, donos de cargos e títulos importantes são frequentemente vencidos por uma teia de poder sem nome, que se manifesta por conchavos e armações.                                                                                        É nesse verdadeiro ninho de cobras que chega, em outubro, o novo secretário de Estado, também anunciado no último dia 31. “Sinto o peso da responsabilidade dada a mim: este chamado me confia uma missão difícil e desafiadora, diante da qual minhas forças são fracas e minhas habilidades poucas”, disse o italiano Pietro Parolin, 58 anos, até então núncio apostólico – cargo equivalente ao de embaixador da Santa Sé – na Venezuela. “Me coloco a serviço do Evangelho, da Igreja e do papa Francisco com ansiedade, mas também com confiança e serenidade.”

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